sábado, 9 de janeiro de 2016

velhos que vomitam as melhores espadas

não posso parar de fazer de cantar rock 
porque sem o rock as pessoas,
a civilização morre viva soterrada 
pelo estrume do dinheiro

podem dizer, como já disseram, 
"edu planchêz, você está velho,
o seu tempo acabou"...
mas são os velhos que vomitam as melhores espadas

estive sim, no rock in rio em 1985,
durante o concerto do yes mergulhei na lama, na chuva,
e nunca mais sai de lá,
essa é uma das coisas que me faz imortal,
imorrível, cidadão das tormentas infindáveis

( edu planchêz )

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

nos paetês, nas crinas do animal


conto os grãos da areia de nossas praias
com meus olhos de areia,
preso ao elástico de vidro,
ao salto do gnu de pelagem cinzenta,
com a face e a cauda negras

antílope encontrado no leste e sul da áfrica,
vinde a minha mesa,
ao meu livro de péssimas maneiras

para o jantar, temos um monte de ilhotas,
de pedras e canetas

temos dedos para encontrar com dedos

e o absurdo inexato da mímica,
faz sombra na frente da vela,
nas películas de Charles

aqui cabe todo e qualquer assunto,
andré breton e márcia aide,
juntos, numa lâmina exposta a luz,
nos paetês, nas crinas do animal

( edu planchêz )

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

versos que são pétalas de cera


por certo sou o poeta ancestral
costurado nas rendas das calcinhas de minha senhora,
"o anjo torto do carlos e do outro"
debruçado nas orlas de estrelas de shiva e parvati

deixando o deserto para morar em definitivo
em tuas continentais costas,
nos selos teus, nos campos lavrados
da vagina secreta da mulher
que condensa em si todas as mulheres

e todas as mulheres que correm com os lobos,
se edificam nos pelos teus,
nas bocas que usa para mastigar
o céu de creme de leite, a seiva divina
do seu sempre orfeu

e vou, e vamos,
pelos arredores de dentro,
pelos solos de fora

e o poeta ancestral,
e a poeta ancestral,
dizem um ao outro,
sem usarem uma única palavra,
versos que são pétalas de cera,
pétalas de livros, pequenos filmes,
cinema nouvelle vague,
cinema novo,
arte da caminhar em zig zag

( edu planchêz )

foda-se


de um foda-se para esses psicopatas sem poesia,
um caralho de asas, uma vaca tetuda...
liguemos o foda-se 
aqui e agora para esse planeta mofado
de homens e mulheres mofadas

e para alem desses arranhas-céus,
morder a maçã azul da não violência

o sol do desmando, da desobediência civil,
da safadeza sagrada, brilha,
entremos nele com todas as patas,
com todas as pontas

com os lábios de quem morre para o egoísmo,
beijemos a fria flor, o sorvete das naves
ancoradas nas partes mais sensíveis
e o foda-se se estende pelas três mil direções,
pelos bosques intocados de nós mesmo

( edu planchêz )

cataratas de meteorito


um luxo as seis horas e trinta e seis de quinta-feira,
saborear os quitutes do velho e requintado led zeppelin,
privilégio de quem rasgou as carnes das chamas,
partidos em zil pedaços, alucinado por raios ultrajantes,
cataratas de meteoritos, alavancas que nos levam
da terra das andanças ao roliço corpo da alma blues
e o roliço corpo da alma blues, dança,
permite que o toquemos com as pontas dos neurônios,
com as línguas ardidas da guitarra
eu sou todo vapor, aço em estado de vela acesa,
alce ungido com saliva, madrepérola greta,
vento soberano, prata esticada nos cabelos de venus,
cio de amar-te de dia e de noite nas camadas íngrimes


( edu planchêz )

ultra presente


o que é verdade e o que é mentira em minha vida, 
rodam numa roleta de estrelas de muitas bocas,
e o led zeppelin do futuro, por sorte,

agarrado está nos trovões que ora acorrento
em nossa sala de invenções explicitas


e se você não se entende com os braços
da minha poesia, com os arcos que armo
nas estantes de puro vidro e sal,
não importa, porque os braços do meu rock,
se inundam de temporais,
de ocultas faces, que podes ver,
se abrires bem os olhos


mas o led zeppelin do ultra presente,
caminha em nossas peles,
alardeando o novo que acaba de florescer,
feito cigarra que estronda seus arrepios sonoros
no mais incendiário meio-di
a 


 ( edu planchêz )

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

nosso pai


nosso pai não foi um arquiteto,
nem um construtor de aviões de matéria estelar,
ele andou pela terra semeando amigos, filhos e netos, 
amores e caixas de bombons

e eu lembro do dia que tomamos banho de chuva,
felizes como dois bicos-de-lacre,
no quintal de nossa velha casa do novo horizonte

de peixeiro a procurador federal,
meu pai desenhou espadas de ouro em nossos olhos,
arcos de bétula tencionados ao máximo,
para que neles atiremos as flechas
do nunca desistir, do sempre ousar,
do jamais deixar de ir alem do alem

nosso pai não foi um arquiteto,
nem um construtor de aviões de matéria estelar,
ele andou pela terra semeando amigos, filhos e netos,
amores e caixas de bombons

( edu planchêz )

domingo, 3 de janeiro de 2016

para samira


no dia de hoje não passo de uma lágrima, 
de um sol bem pequeno, 
de uma lua gotejada 
gota por gota num vidrinho de almíscar


( edu planchêz )

o corpo


o corpo dói, qual corpo que não dói?
a alma lateja enroscada nas couraças emocionais,
e vou desatando esses nódulos,
conversando com a idade que tenho,
com as partículas grandes e pequenas,
das vivencias, dos turvamentos, das iluminações

mergulho nos tonéis da esperança,
no sempre lago de antigamente,
no futuro do algo que ainda não sou

se posso me ajudar, se posso te ajudar,
relatando o que sinto,
não somos nada diferentes,
saudamos nossos vivos,
choramos nossos mortos,
precisamos tomar banho, comer, ir a rua,
ao banheiro, inventar dinheiro,
criar noticias, buscar informações

e tem os livros, as canções,
os ídolos mestres que nos inspiram,
os que nos levam ao esquecimento

preciso esquecer ou não lembrar 
de algumas coisas que são agulhas,
desamar, deixar de ser refém de paixões platônicas,
de valorizar quem não me valoriza,
ir para outro mundo, ficar nesse mundo,
destruir, construir a escada que não leva para o céu,
e lá eu quero saber de céu?

e o corpo dói,
e o rádio zuni a voz de maria gadú, de adriana calcanhoto...
"e o inverno no leblon é quase glacial",
e o verão na estrada dos bandeirantes é uma máquina
de assar frangos e humanos

( vou parando por aqui. cansei )

( edu planchêz )

borboleta cor de morango



ainda posso, ainda tenho o direito de escrever,
de mover a pedra do centro da máquina cabeça

resta-me uma placa, um continente sem nome,
um vulcão adormecido aparentemente;
olho para direita de meus ouvidos,
para a esquerda, para trás e para a frente,
para o inacabado dia

( um está vertido em águia, o outro,
em mil gramas de poeira celeste )

nunca cessa o canto gemido da floresta
dos antigos sonhos de mover nos nosso braços asas

por todo o negro corpo,
por toda a aspereza do ventre da cigarra
despida de todos os véus,
a borboleta cor de morango se reinventa na flor

( edu planchêz )

sábado, 2 de janeiro de 2016

linda


ela me disse se eu fosse morar nas profundas florestas do fim do cosmo,
nas absurdas colinas do nunca,
iria pescar para que eu não padecesse de falta de vitaminas

porque se não der certo o seu dom de cantar,
assumirá sua identidade de índia ancestral;
diante de tanta humildade,
me posto a chorar de joelhos lágrimas, flores e estrelas

( edu planchêz )

pedras verdes azuis


eu aqui perto do rosto perfeito do mar silêncio,
da prosa balsâmica de janeiro,
do reino sensorial que me liga ao céu da arca
onde guardo os livros da aurora da Terra,
os livros escritos por mim mesmo em vidas prévias

uma, duas, três ondas de letras que formam silabas e palavras
no solo do sal, no cais das areias,
nas cartas escritas pelo amor de agora

eu aqui longe da sombra do pássaro
que passa rente a eterna neve dos andes de minha cabeça

o pouco que sei escreve na seda e no linho
o retrato do que ouço,
o que ouço retorna do reino das rãs cantoras,
das caravanas de flamingos
que deslizam pelas almofadas de nuvens

e ver sempre foi o meu maior dom,
a alegria mãe,
o sentido de permanecer entre as pedras verdes azuis,
entre vossas mãos de cristais

( edu planchêz )

Para Paula Beatriz Albuquerque


"O miolo do mundo vive em festa",
vivo em festa com esse miolo,
com esse pão dos escolhidos de o arco e a lira.

Paula, a lira que tocas por todas essas frases,
por todas as clases do fazer e do não fazer,
que se abram todos mares da epopeia,
pelo carro puxado pela tuas letras de vivo sangue.

Vosso olho, nossa casa, o elo,
a ponte do manifesto ao pensado,
da retidão da luz riscada
por teus dedos de escriba extrema 

( edu planchêz )

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

a porra do meu rock



um de janeiro, 
cinco horas e vinte e sete minutos do verão
que promete esturricar os menos desavisados
e detonar o nosso rock arrombado
sobre o lombo dos que gemem gostoso
pelas marolas oceânicas
da cidade estrela de nossas vidas

e você pode me chamar de poeta devasso,
de comunista greludo,
de cidadão desqualificado,
por que sou tudo isso mesmo diante dessas leis,
dessa pretensa música que fede a bosta de cavalo

a arte do sertanejo é ajudar a gente a esquecer 
que tem cérebro,
e a porra do meu rock vos fode com alma,
com os cabelos do sentimento extremo,
com as páginas dos mestres de bob dylan

 ( edu planchêz )